A jarra só tinha um defeito. Tinha de ser carregada nos braços ou na cabeça por uma única pess oa, o que limitava o seu peso.
Foram os Cana anitas, em 1500 a .C., que tiveram a idéia de colocar uma alça na jarra, para permitir o transporte de peças mais pesadas.
Não pensem que foi fácil.
Inicialmente os Cana anitas colocaram só uma alça, mas a jarra ficava muito instável e o líquido sempre entornava. Nas ladeiras, era um caos.
Surgiu então a idéia de colocar duas alças o que permitiria ser carregada por dois homens. Mas as primeiras ânforas tinham as duas alças do mesmo lado, forçando os carregadores a andar em coluna por um.
Como o carregador de trás ficava encoxando o da frente, ocorriam grandes discuss ões, ambos querendo — eram gregos — o lugar da frente.
Este problema foi resolvido estabelecendo um rodízio, quem ia na frente na ida, vinha atrás na volta, metodologia logo batizada de troca-troca.
Mas os problemas continuaram, o carregador de trás vivia pisando em cocô de cachorro e o patrocinador reclamava que a camiseta nunca aparecia nos quadros.
Os Cana anitas resolveram, pois colocar as argolas em ângulo reto, e quem calculou seu exato posicionamento foi o jovem Pitágoras que faria fama e fortuna com o software.
Infelizmente, os carregadores só andavam em círculo.
Cheio de tanto amadorismo, o rei mandou chamar um consultor. Estrangeiro, pois consultor, ninguém é profeta em sua terra, tem de ser de fora, e este sentenciou que ou se deixava como estava e cobrava-se por quilômetro ou se deslocavam as alças para 180º.
A colocação das argolas em posições diametralmente opostas foi adotada e deu-se àquela jarra hightec o nome de ânfora que em grego, inigualável poder de síntese, significa “recipiente para ser carregado por duas pess oas, uma de cada lado”.
Mas, nem ass im, funcionou. As ânforas continuavam a perambular em círculos.
Chamado o consultor, sem pagar porque ainda estava na garantia, este esclareceu que, apesar de, por atraso da gráfica, a ânfora ter vindo sem o manual de instruções, era óbvio que os carregadores, além de marchar lado a lado, tinham de ficar virados para o mesmo lado.
E ass im, sempre carregada por dois, as ânforas indo e vindo, levando e trazendo, subindo e descendo, estabeleceram aquela malha sutil de relacionamento que chamamos de comércio, sem a qual a humanidade não teria chegado ao capitalismo, ao marxismo, à globalização, ao neoliberalismo, tigres asiáticos, privatização, crise na bolsa, Real e à embalagem one way.
Para não perder a viagem, o consultor sugeriu ao rei que, usando o espaço entre as alças, mediante uma tabela de sinais gráficos, cada um representando um som diferente, seria poss ível colocar um rótulo identificando o conteúdo dos vasos.
O rei vetou, explicando que, em vez de ter o trabalho de ensinar a todo mundo o som de vinte e poucos sinais gráficos só para que soubess em se a ânfora continha óleo ou vinho, era mais fácil os carregadores anunciarem o conteúdo em voz alta.
Sugeriu ademais que o consultor usass e sua criatividade para bolar um jeito de colocar rodinhas na ânfora sem que o vinho vazass e pelos buraquinhos.
Por isto os Cana anitas inventaram a ânfora, mas a escrita ficou para o povo seguinte, os Fenícios.
Já o grito dos carregadores que logo incluíram o preço e as condições de pagamento, a propaganda, pass ou a fazer parte integral de noss as vidas, mas só se profiss ionalizou depois que os judeus, outro povo do Mediterrâneo, deram-lhe o nome de marketing.
E pass ou a dar uma grana firme.
Coluna gentilmente cedida por Luiz Groff - Acesse www.invinoveritas.com.br
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