quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O Enigma Econômico do Big Mac Argentino


É a mesma rede, as ofertas de combos que incluem sanduíche, batata-frita e refrigerante e, para as crianças, a opção de levar de brinde algum personagem infantil estão ali. Mas falta um item importante no painel luminoso que exibe o cardápio de qualquer Mc Donald's na Argentina: o Big Mac.

Na maior parte das lanchonetes da rede no país, o Big Mac só aparece em um papel fixado na parede, onde se lê os preços de todos os itens à venda. Em outras, nem isso. Mais estranho ainda, apesar de estar escondido, o Big Mac é bem mais barato que todos os outros sanduíches.

O famoso combo número 1 custa 21,90 pesos (R$ 9), enquanto os outros oscilam entre 35 e 45 pesos (R$ 14 e R$ 18). O sanduíche sozinho sai por 20 pesos (R$ 8), enquanto os demais custam entre 26 e 34 (R$ 11 e R$ 14). Faz algum sentido o Mc Donald´s baratear o preço do carro-chefe da marca e escondê-lo dos clientes? Não é mais lógico para uma empresa propagandear suas grandes promoções?

Para os analistas financeiros argentinos, o Índice Big Mac, da revista The Economist, é a resposta do enigma. Criado em 1986, o curioso índice compara o preço do Big Mac ao redor do mundo com seu valor original em dólares, para medir de forma simplificada a valorização e desvalorização das moedas no mercado internacional.

É baseado na teoria da paridade do poder de compra: como o Mc Donald's usa ingredientes e procedimentos idênticos nos 120 países em que tem filiais, o preço do Big Mac deve refletir as variações do câmbio local. Ou seja: se o Big Mac de um país custa o mesmo preço em dólares que nos Estados Unidos, há paridade cambial entre o dólar e a moeda deste país. Ao longo do tempo, a variação do preço do lanche também serve como um indicador da inflação de cada região.

Desde o ano passado, pipocam denúncias nos jornais sugerindo que o governo esteja pressionando o Mc Donald´s a manter o preço do Big Mac mais baixo que o de outros lanches e assim maquiar o Índice Big Mac, para que o peso argentino pareça mais forte do que realmente é.

O secretário de comércio exterior, Guillermo Moreno teria negociado baixar o preço do Big Mac em troca de não oferecer restrições à importação dos brinquedos do Mc Lanche feliz - o que tanto a rede de lanchonetes como o Indec (o IBGE argentino) negam com veemência.

Não é a primeira vez que a Casa Rosada é acusada de manipular índices. O Indec divulga que a inflação argentina é de 9,5% ao ano, enquanto na análise de consultorias privadas chega a 22,8%. Em casos recentes, o governo chegou a multar e processar analistas independentes, alegando que divulgavam informações falsas e tecnicamente falhas.

Em junho do ano passado, a própria Economist decidiu contestar as taxas de inflação divulgadas pelo governo argentino. Analisando a variação do preço do Big Mac nos últimos dez anos, a revista concluiu que o peso teve uma inflação anual de 19%, muito maior que a divulgada oficialmente, e afirmou que apoia os que dizem que o governo está tentando maquiar os índices.

No último dia 12, foi publicado pela revista o novo Índice Big Mac, atualizado. Dessa vez, na Argentina, apesar das acusações de acordo com o governo, o lanche é o 7º mais caro do mundo, o que reflete a alta da inflação (o do Brasil é ainda mais caro, está em 4º lugar, mas há que se considerar a inflação brasileira, que é menor). Se custasse o mesmo que os outros lanches, ficaria ainda mais acima no ranking.

Enquanto o caso não se esclarece, o Big Mac continua escondido. Os clientes mais bem informados - que ainda são poucos, a julgar pela amostragem dos lanches nas mesas - aproveitam a estranha oferta secreta para economizar.

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