quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Gastronomia Arrogante Pode Causar a Volta da Comida sem Frescura


Podemos começar a postagem de hoje citando o espanhol Manuel Vásquez Montalban, autor do livro Contra los Gourmets: "O gourmet nunca esquece o nome do morto. E enquanto o come, faz menção expressa a ele, seja javali ou alcachofra, e lembra de outros assassinatos e devorações anteriores, porque o prazer de comer deve vir acompanhado da memória de festins passados." Comida boa, todo mundo gosta. Mas o problema é que, para o gourmet, não basta comer, tem que contar.

Segundo André Barcinski, crítico de cinema da FOLHA e assumidamente "bom de garfo", com a modernização da culinária e a hipervalorização da alta gastronomia, as pessoas estão ficando cada vez mais 'sofisticadas', mas cada vez mais chatas. Elas discutem o prato em vez de comer. André se tornou um pouco mais conhecido pelos militantes da Gastronomia após o grande sucesso do seu Guia da Culinária Ogra, postado em seu blog. Guia em que fomos singelos eleitores e ajudamos a emplacar o CHI FU e a menção honrosa do BIU em São Paulo.

Uma outra proposta que evidencia o cansaço do papo-gourmet é o grande sucesso é o programa Larica Total, no Canal Brasil, que funciona muito bem como uma sátira aos programas tradicionais de culinária e aos grandes chavões gourmets. Paulo Tiefenthaler diz que em seu programa não existem faisões, trufas ou fungos australianos, nem outras raridades psico-sofisti-palhaçadas de carinho. A culinária de guerrilha é feita de "clássicos" como yaksobra, sushi de feijoada e bolinho de miojo.

Nina Horta, a primeira dama da gastronomia brasileira, se queixa de ter que escrever cardápios usando 'tartelete de alho-poró mimoso' ao invés de massinha com creme de milho, como gostaria e considera correto. Segundo ela, apesar de uns poucos grandes cozinheiros estarem fazendo comida nova e gostosa, os experimentos e supostas sofisticações já deram o que tinham que dar para a maioria das pessoas.

Nina Horta ainda se diz cansada do que ela chama de "food victims", vítimas das modas gastronômicas. "Desconfio sempre das modas. A nouvelle cuisine, cheia de frescuras, surgiu na época dos yuppies, que tinham muito dinheiro para gastar. Agora, se as coisas que as pessoas podem comer têm que ser mais baratas, vão começar a glamorizar outros tipos de comida. É um jeito de serem felizes com aquilo que têm."

Desse ponto de vista, a reação ao papo-gourmet não surge apenas porque as pessoas cansaram, mas também porque precisam gastar menos para sustentar o prazer. A chef Heloísa Bacellar ainda lembra que o movimento por "comida de verdade" está crescendo em vários países do mundo.

Mas, a tropa de resistência aos modismos gastronômicos ainda terá de comer muito feijão e arroz até se impor. Brian Wansink, autor do livro "Porque Comemos Tanto", que se baseia em estudos científicos para mostrar o porquê das pessoas comerem em excesso e quais fatores influenciam diretamente na quantidade de comida que consumimos, diz que um bolo de chocolate pode ser vendido mais facilmente, com preço maior e até mesmo ser considerado mais gostoso se for chamado de "Bolo de Chocolate Cremoso da Vovó Naná" ao invés de Bolo de Chocolate. É uma percepção involuntária, que por mais que não acreditemos na Vovó Naná, nos faz pelo menos provar o tal bolo de chocolate cremoso... Dessa maneira, muito dos modismos que ainda virão farão sucesso pelo simples fato de querermos conhecer algo novo, diferente.

Um comentário:

  1. Tem que comer é sem frescura mesmo, moderado, mas sem essas frescurites.
    Nunca mais me esqueço de uma lanchonete em um festival de gastronomia onde estava a venda um pão com ovo gourmet, dei uma olhada nele e broxei na hora, o vendedor disse que ele levava por cima um queijo mussarela de alta qualidade e uns temperos que nem me lembro mais quais eram, e isso pelo olho da cara.

    Não comi e ainda disse pra um amigo que eu mesmo faço meu ovo frescura, digo, gourmet, basicamente leva mussarela, presunto de peru, orégano, fatias finas de bacon, tomate e cebola, no final coloco azeite.

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