quinta-feira, 22 de março de 2012

Pint to Pint - Real Ales




É muito raro lermos um texto sobre cervejas inglesas sem nos depararmos com o termo Real Ale.

Uma Real Ale é um produto natural fabricado com ingredientes tradicionais e amadurecidos em um processo chamado de fermentação secundária que ocorre no próprio recipiente em que a cerveja é servida (casco, barril ou garrafa). É este processo que torna a Real Ale única entre as cervejas e desenvolve sabores e aromas maravilhosos que cervejas processadas nunca poderão proporcionar.

O termo Real Ale pode ser aplicado apenas às cervejas tipo Ale, ou de alta fermentação, como as bitters, milds, stouts, porters, barley wines, golden ales, old ales, pale ales e IPAs (indian pale ales). 

Se você já tomou uma bitter ou uma pale ale em algum pub no Reino Unido, tirada com o uso de uma grande alavanca (hand pull pump), diferente das torneirinhas de chopp que estamos acostumados, com certeza você já provou uma Real Ale.

                                                 Traditional Hand Pull Pump 

Esse tipo de bomba é necessária, pois como não há a pressão do gás adicionado para fazer a cerveja sair do barril é preciso bombeá-la manualmente para fora.

Uma Real Ale é um produto natural, vivo. Por sua natureza, isto significa que tem uma vida útil limitada e precisa ser cuidada e mantida em uma temperatura correta para que possa amadurecer e expressar seus sabores complexos para o consumidor desfrutar.

Todas as cervejas são feitas de cevada maltada, lúpulo, levedura e água, embora outros ingredientes como trigo, frutas e especiarias possam ser utilizados em alguns casos. A levedura transforma açúcares do malte em álcool e alguns compostos aromáticos. Já o lúpulo fornece os sabores amargos e aromas para a cerveja. O sabor da cerveja depende da combinação dessas variáveis.

A grande maioria das cervejas processadas servidas em garrafas tem uma vida útil mais longa, pois não é um produto vivo. Basicamente, após a cerveja ter terminado a fermentação na fábrica, ela é resfriada, filtrada para remover toda a levedura, carbonatada (gaseificada) artificialmente, engarrafada e em seguida é pasteurizada para torná-la estéril.

O problema é que com a remoção da levedura e com a pasteurização, que mata o que é vivo da cerveja, também são removidos grande parte do sabor e do aroma associados com a cerveja. Como não há nenhuma fermentação secundária ocorrendo no recipiente em que é armazenada, não há nenhuma carbonatação natural da cerveja, de modo que o gás, dióxido de carbono ou uma mistura de dióxido de carbono e de nitrogênio, tem de ser adicionado à cerveja. Isso cria uma cerveja gaseificada artificialmente em vez da suave carbonatação proporcionada pela lenta fermentação secundária em um barril ou garrafa de cerveja Real Ale. 

Tradicionalmente, as Real Ales não são servidas frias, mas em uma temperatura entre 13 e 14°C, como um bom vinho tinto. Certamente as suas primeiras pints (medida de volume inglesa, equivalente a pouco mais de meio litro, comumente utilizada para servir cerveja nos bares ingleses) vão ser lembradas como um pouco quentes, mas você rapidamente vai se habituar à novidade. Sem dúvidas, a cerveja servida a essa temperatura revelará muito mais de seus aromas e personalidade do que as loiras estupidamente geladas que estamos acostumados no Brasil. 

O resultado é que sem a sensação frisante e ácida proveniente da adição de gás carbônico externo, a cerveja resultante é leve, agradável e muito mais interessante de ser bebida.

No início dos anos 70 um grupo chamado CAMRA (Campaign for Real Ale), com sede no Reino Unido, batizou o termo Real Ale para tornar mais fácil para as pessoas diferenciarem as cervejas processadas insossas que estavam sendo impulsionadas pelas grandes cervejarias das cervejas tradicionais cuja existência estava ameaçada. O grupo tem sido um sucesso e os pubs que servem Real Ales normalmente têm placas com os dizeres Cask Beer, indicando que servem cervejas maturadas no casco, ou barril.

Bibliografia:
Designing great beers. Ray Daniels. Bewers publications, 2000.
CAMRA website, www.camra.org.uk.

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