quarta-feira, 4 de abril de 2012

Boicote Tenta Impedir o Aumento do Imposto de Importação Sobre Vinhos e Criação de Cotas




As reações ao pedido dos grandes produtores gaúchos para a criação de uma salvaguarda para o vinho brasileiro não param de crescer.

Em uma semana e meia, uma corrente de retaliação promove um boicote ao rótulos nacionais nos restaurantes e nas lojas, inclusive, uma grande marca tirou seu nome da disputa e a controvérsia ganhou dimensão internacional.

Unidos, importadores, chefs, "restaurateurs" e sommeliers buscam apresentar argumentos ao governo antes que medidas como o aumento do Imposto de Importação (que se cogita um aumento de 27% para 55%, ou a criação de cotas) ou a imposição de um limite na quantidade de garrafas importadas sejam concretizadas.

No Rio, a chef Roberta Sudbrack retirou do cardápio os rótulos brasileiros de vinícolas ligadas à petição. Segundo ela, é um gesto simbólico e uma maneira de se posicionar sobre um assunto que, afinal, "pode colocar em risco o crescimento da gastronomia e do país".

Em São Paulo, diversos chefs também estão boicotando os vinhos nacionais, dentre eles o principal de todos, o chef Alex Atala.

O restaurante Tasca da Esquina e a loja de bebidas Rei dos Whisky's & Vinhos, duas das maiores redes varejistas, já estão dispostos a fazer o mesmo.

Thiago Locatelli, sommelier do Varanda Grill, diz que a salvaguarda é "um tiro no pé, que os consumidores estão revoltados e que o mercado brasileiro será inundado por vinhos argentinos e chilenos". Juntos, os dois países detêm 60% do mercado de vinhos importados no Brasil.

Na Argentina, José Zuccardi, o "rei do malbec" e diretor da Familia Zuccardi, uma das principais vinícolas daquele país, diz que o baixo consumo per capita no Brasil, dois litros por habitante, por ano, é um dos entraves. Segundo Zuccardi, "Isso vai contra o desenvolvimento dos próprios vinhos brasileiros". Ele, que com a alíquota zero do Mercosul pode se beneficiar com as medidas de salvaguarda, acredita que o vinho importado pode estimular o "crescimento de um grande mercado para os vinhos brasileiros".

Enólogos afirmam que, com a abertura da década de 1990, os consumidores passaram a provar bebidas europeias de maior qualidade e, com isso, os viticultores gaúchos viram-se obrigados a profissionalizar e melhorar sua produção.

Diz o português Antonio Soares Franco, produtor dos vinhos Periquita: "Foram os importados que promoveram a qualidade do vinho brasileiro. É uma guerra em que ninguém sai ganhando."

Para Ciro Lilla, dono da importadora Mistral e vice-presidente da Associação Brasileira de Bebidas, o mais provável é que "todo mundo beba mais cerveja, o principal concorrente do vinho". "É absurdo! Salvaguarda é para proteger ramos que estão em perigo de extinção e, segundo o próprio Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho, que encabeça a ação), o mercado cresceu 7% no último ano, mais que a economia."

Rogério D'Avila, dono da importadora Ravin, diz que o "pequeno produtor brasileiro também é massacrado". Eduardo Angheben, da vinícola que leva o seu nome, diz que a salvaguarda é "antipática" e pleiteada por um grupo de companhias que concentram essa indústria.

Famosa pelos espumantes, mas também produtora de vinhos tintos, a Salton, antes signatária do pedido de salvaguarda, voltou atrás, não apoia mais a medida por considerar que "restringe o livre arbítrio dos consumidores". Carina Cooper, sommelière da marca, diz que "os vinhos no mundo não são iguais, cada um tem uma história, uma uva, um estilo".

O provável resultado destas medidas é o aumento no preço das garrafas ao consumidor, seja por conta de uma mordida maior nas taxas de importação (calcula-se um impacto entre 20% e 23% no preço da garrafa) seja pela redução de oferta estabelecida pelo controle de cotas. Enfim, se o vinho já era caro nas lojas e mais caros ainda nos restaurantes, vai pesar ainda mais no bolso. A outra consequência será a diminuição de opções de rótulos, principalmente das pequenas produções importadas que não conseguirão se adaptar às normas dos rótulos ou vão ficar inacessíveis ao consumidor. O pior de tudo é que estas medidas não vão necessariamente aumentar a fatia de consumo do vinho fino nacional. Aqueles rótulos de boa qualidade que conquistaram mercado pela meritocracia costumam ter sua comercialização garantida e não têm capacidade de crescer em volume de uma hora para a outra. Quem pago o pato, como sempre, serão os consumidores e amantes de um bom vinho.

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