sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A Invenção da Ânfora


O primeiro recipiente prático para guardar vinhos e azeites foi a jarra. Feita de barro, material abundante, fácil de moldar e tenaz, que permitia fazer vasos leves de paredes finas.

A jarra só tinha um defeito. Tinha de ser carregada nos braços ou na cabeça por uma única pessoa, o que limitava o seu peso.

Foram os Canaanitas, em 1500 a.C., que tiveram a idéia de colocar uma alça na jarra, para permitir o transporte de peças mais pesadas.

Não pensem que foi fácil.

Inicialmente os Canaanitas colocaram só uma alça, mas a jarra ficava muito instável e o líquido sempre entornava. Nas ladeiras, era um caos.

Surgiu então a idéia de colocar duas alças o que permitiria ser carregada por dois homens. Mas as primeiras ânforas tinham as duas alças do mesmo lado, forçando os carregadores a andar em coluna por um.

Como o carregador de trás ficava encoxando o da frente, ocorriam grandes discussões, ambos querendo — eram gregos — o lugar da frente.

Este problema foi resolvido estabelecendo um rodízio, quem ia na frente na ida, vinha atrás na volta, metodologia logo batizada de troca-troca.

Mas os problemas continuaram, o carregador de trás vivia pisando em cocô de cachorro e o patrocinador reclamava que a camiseta nunca aparecia nos quadros.

Os Canaanitas resolveram, pois colocar as argolas em ângulo reto, e quem calculou seu exato posicionamento foi o jovem Pitágoras que faria fama e fortuna com o software.

Infelizmente, os carregadores só andavam em círculo.

Cheio de tanto amadorismo, o rei mandou chamar um consultor. Estrangeiro, pois consultor, ninguém é profeta em sua terra, tem de ser de fora, e este sentenciou que ou se deixava como estava e cobrava-se por quilômetro ou se deslocavam as alças para 180º.

A colocação das argolas em posições diametralmente opostas foi adotada e deu-se àquela jarra hightec o nome de ânfora que em grego, inigualável poder de síntese, significa “recipiente para ser carregado por duas pessoas, uma de cada lado”.

Mas, nem assim, funcionou. As ânforas continuavam a perambular em círculos.
Chamado o consultor, sem pagar porque ainda estava na garantia, este esclareceu que, apesar de, por atraso da gráfica, a ânfora ter vindo sem o manual de instruções, era óbvio que os carregadores, além de marchar lado a lado, tinham de ficar virados para o mesmo lado.

E assim, sempre carregada por dois, as ânforas indo e vindo, levando e trazendo, subindo e descendo, estabeleceram aquela malha sutil de relacionamento que chamamos de comércio, sem a qual a humanidade não teria chegado ao capitalismo, ao marxismo, à globalização, ao neoliberalismo, tigres asiáticos, privatização, crise na bolsa, Real e à embalagem one way.

Para não perder a viagem, o consultor sugeriu ao rei que, usando o espaço entre as alças, mediante uma tabela de sinais gráficos, cada um representando um som diferente, seria possível colocar um rótulo identificando o conteúdo dos vasos.

O rei vetou, explicando que, em vez de ter o trabalho de ensinar a todo mundo o som de vinte e poucos sinais gráficos só para que soubessem se a ânfora continha óleo ou vinho, era mais fácil os carregadores anunciarem o conteúdo em voz alta.

Sugeriu ademais que o consultor usasse sua criatividade para bolar um jeito de colocar rodinhas na ânfora sem que o vinho vazasse pelos buraquinhos.
Por isto os Canaanitas inventaram a ânfora, mas a escrita ficou para o povo seguinte, os Fenícios.

Já o grito dos carregadores que logo incluíram o preço e as condições de pagamento, a propaganda, passou a fazer parte integral de nossas vidas, mas só se profissionalizou depois que os judeus, outro povo do Mediterrâneo, deram-lhe o nome de marketing.

E passou a dar uma grana firme.

Coluna gentilmente cedida por Luiz Groff - Acesse www.invinoveritas.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário. Participe!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...